Um novo ano se inicia, mas os debates entre os diferentes operadores de negócios na área de alimentos e bebidas já vem intensos desde outubro, período das negociações de budget anual ou plurianual para a maioria das empresas.
Sempre leio e respeito os relatórios globais de tendências de consumo, mas devemos entender que o foco desses estudos são sempre os maiores mercados: os maduros (América do Norte, Europa e Japão) e os em forte desenvolvimento (China). Para o caso de análise do Brasil que é grande e bastante sui generis, recomendo provocar e ouvir com muita atenção as equipes comerciais sobre as suas próprias percepções a respeito do comportamento de seus clientes e dos consumidores nas regiões atendidas.
Nas últimas conversas com executivos do mercado, tenho enfatizado que o Brasil se encontra em um fundamental ponto de inflexão histórico, tanto econômico, como político, e principalmente de negócios. Do ponto de vista pragmatico, os três principais pontos de atenção, nos próximos anos nas indústrias de Alimentos e Bebidas são:
(1) Aumento da participação do Brasil no Comércio Internacional;
(2) Aumento da participação de Co-packers/co-manufacturers;
(3) Aumento da população de idosos.
Podemos apresentar esses direcionadores em alguns gráficos e tabelas simples:
O Brasil se situa entre a 8ª e 9ª posição das maiores economias do mundo, porém a participação do país no comércio mundial é na média de insignificantes 1 %.
O país atravessa uma profunda depressão econômica, que se encaminha já para 4 anos consecutivos e da falência generalizada dos modelos de negócios em vigor há décadas.
A única saída viável para a situação do país e para a construção de um futuro sustentável é mudar mais rapidamente de direção. Isto significa o país se abrir unilateralmente para o comércio internacional e reduzir fortemente as barreiras protecionistas para iniciar a inclusão do Brasil nas cadeias produtivas globais.
Os brasileiros são consumidores ávidos e o mercado local apresenta um excelente potencial devido à enorme demanda reprimida. O Brasil possui uma sólida base financeira (sistema bancário e bolsa de valores), boa base industrial e com sua forte e desenvolvida estrutura de agronegócios (agricultura e pecuária) tem todas as condições de ser um dos maiores provedores mundiais de alimentos processados.
De acordo com o Rabobank Industry Report 2016, o mercado de co-packers e contract manufaturing representa 20 % do mercado americano de alimentos processados estimado em US$ 750 bilhões, ou seja, aproximadamente US$ 150 bilhões.
O setor de co-manufacturing, é especializado nas atividades produtivas e nas cadeias de suprimento e distribuição. Como processadores industriais seus negócios exigem grandes investimentos em equipamentos e capital fixo e, portanto, liberam as empresas de alimentos desses riscos, permitindo que eles se concentrem na inovação e em suas marcas. O setor de co-fabricação também são parceiros essenciais para aumentar o número de empresas “startup” na indústria de alimentos e bebidas.
Ao observar o Índice de Ocupação Média de Capacidade Instalada da indústria de alimentos, que está no mais baixo patamar, na ordem de apenas 68%, percebemos a enorme necessidade de mudanças. Para superar a depressão econômica é esperado que no processo de recuperação as empresas privilegiem reduzir seus riscos e aumentem sua produtividade nos negócios por optarem por contratação de co-manufacturers.
As notícias e relatórios de tendências sempre enfocam nos hábitos ou desejos dos Millennials ou da Geração X, nada de errado com isso, mas é importante observar no dia a dia das grandes cidades brasileiras o aumento significativo da população da terceira idade.
Essa massa de consumidores tem necessidades e desejos específicos, que as empresas precisam reconhecer e utilizar no desenvolvimento de produtos. Produtos que ofereçam as funcionalidades buscadas, os aspectos nutricionais, além de precificação adequada para um consumidor na sua maioria de limitada capacidade financeira. Aconselha-se atenção fundamental no aspecto de sabores, odores e texturas que gerem um apelo das boas lembranças desses consumidores (conceitos vintage e retro).
Os gráficos abaixo do IBGE apresentam de modo inequívoco essa alteração na pirâmide populacional do Brasil.
Para uma melhor perspectiva das potenciais oportunidades e negócios sustentáveis ao longo do tempo, nada como uma boa reflexão sobre os fatos e realidades do mercado em análise.
Para o executivo ou para o investidor: “Melhor a mais crua realidade do que a mais interessante narrativa”.
Eng.º Químico, MBA Marketing, Mestre Economia, diretor da Profiler Business Consulting e sócio da PBC – Food & Beverages Consultants.